sexta-feira, 29 de junho de 2007

Tarantino Desmembrado


Rafhael Barbosa


Quando a arrecadação de R$ 200 milhões de Pulp Fiction reconfigurou o cinema independente em 1994, todos os holofotes se voltaram para o jovem cineasta Quentin Tarantino, discípulo confesso do mestre Martin Scorsese. 13 anos e quatro filmes depois, o ex-balconista de locadora ocupa lugar privilegiado entre seus pares, e continua a ousar como nos tempos de sua obra-prima, mas parece ter perdido um pouco de seu poder de barganha junto aos estúdios.

Grindhouse projeto que repete a parceria com Robert Rodruiguez (Um Drink no Inferno, Sin City), uma homenagem às antigas salas de cinema especializadas em exibir filmes B (as Grind Houses do título) chega ao Brasil desmembrado, e não como um filme só, como foi pensado. Difícil conceber a lógica por traz da decisão da Weinstein Company ao desfazer a gênese do filme, se não como uma forma de aproveitar qualquer tostão que possa fazer frente ao fiasco nos cinemas americanos. Ainda mais difícil é entender como um cineasta que já convenceu os engravatados da Miramax a filmar idéias tão esdrúxulas como Eles Matam e Nós Limpamos (1996), cedeu a vontade de um estúdio para abrir mão do conceito original do projeto.

Por aqui ainda não existe previsão para o lançamento de Planeta Terror (imagem acima), de Rodriguez, e À Prova de Morte (imagem ao lado), de Tarantino, que concorreu a Palma de Ouro como filme solo, em maio. Boatos na internet dão conta de que o seguimento de Tarantino chegaria ao país em setembro ou outubro, para o Festival do Rio e a Mostra internacional de São Paulo, mas a Europa Filmes, que irá distribuí-los no Brasil, negou essa previsão. Uma possível data para o lançamento de um dos filmes (que não foi revelado pela distribuidora) seria agosto.

TARANTINO DISSECADO

Os fãs alagoanos de Quentin Tarantino provavelmente só terão acesso a "À Prova de Morte" no final do segundo semestre, mas podem tomar como aperitivo o curta-metragem Tarantino’s Mind, que entra hoje (29) em cartaz no Cine-Sesi Pajuçara, passando antes do longa Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton.

Realizado pela produtora carioca Republika Filmes, que tem como associado o ex-diretor de novelas globais Carlos Manga Jr (Vamp), o curta é um exercício de metalinguagem. Pesando a constatação de que a obra de Tarantino é um grande mosaico de referências ao próprio cinema, dos filmes de Kung-fu chineses as películas dos grandes cineastas americanos como Francis Ford Copola e Martin Scorsese, vemos no trabalho dos 300ml [dupla de publicitários que assina com o pseudônimo] uma apropriação do próprio estilo “Tarantinesco”. Desde os diálogos, que remetem aos melhores momentos de Cães de Aluguel, a direção de arte, que trabalhada cuidadosamente para acomodar a atmosfera dos filmes do diretor. O enredo [se é que podemos chamar assim] se limita a uma conversa de bar, entrecortada por tragos de Chopp e petiscos a altura, sempre temperados com comentários em tom de análise.

A carreira do curta começou bem no Festival do Rio ano passado, quando foi selecionado para abrir a Mostra ao lado de Dália Negra, de Brian De Palma. A boa recepção do público se repetiu no Festival Internacional de Cinema de Brasília (FIC), onde levou o prêmio de melhor filme segundo escolha da audiência.

"Todas as idéias contidas no filme fazem parte de uma tese que nós elaboramos. Já vimos todos os filmes dele várias vezes. A visão do personagem de Selton no filme é a junção das nossas teorias sobre Tarantino", releva um dos 300ml. O outro complementa: "O curta nos serviu como experiência para um projeto em longa-metragem que pretendemos desenvolver. É complicado sair da publicidade direto para o cinema, por isso fizemos essa escala", diz o diretor, insistindo para que seus nomes não sejam divulgados. A premiere Brazil do Festival do MOMA, em NovaYork, é a próxima parada do filme da dupla, que tem no elenco Seu Jorge e Selton Mello, e será exibido na Big Apple dia 12 de julho.

Selton nem precisou se despir para entrar no papel de um cinéfilo que anuncia ter desvendado o “Código Tarantino”. Idealizador do programa de TV Tarja Preta, dedicado a entrevistar grandes nomes do cinema nacional, o ator é também um fã declarado do cineasta americano. Já o músico (e ator de ocasião) Seu Jorge tem no filme a função única de interlocutor, com intervenções pontuais, e sempre descartáveis.

Tarantino’s Mind passa longe de ser uma obra prima do curta-metragem. Nem mesmo acrescenta algo ao gênero. Quem viu Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch, pôde notar que a premissa já rendeu momentos bem mais inspirados. Mas ainda sim vale por apresentar uma curiosa análise sobre a obra de um dos cineastas mais inventivos em atividade.

Serviço:

Estréia do curta-metragem Tarantino's Mind (Dr.: 300ml, Brasil, 2006, 15'), a partir de sexta-feira (29), no Cine Sesi Pajuçara, antes das exibições de Batismo de Sangue.

Horários: 16:40h - 21:00h



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