A Velha Lição

Não se deve esperar muito de Ensinando a Viver, filme que tem exibição hoje (05) e amanhã (06) em Maceió, na Sessão de Arte do Cine Iguatemi. E nada tem a ver com o horroroso título em português que o longa recebeu. The Martian Child, na versão original, é um drama “formulaico” e previsível desde suas primeiras seqüências. Ao ver o escritor viúvo David Gordon (John Cusack em atuação simpática) procurar uma instituição que abriga crianças órfãs, e lá encontrar um garoto introspectivo e problemático, concluímos: vem por ai um desfecho redentor, onde ambos – Gordon e o garoto – tocarão um ao outro, mudando suas vidas para sempre. Com o perdão do spoiler, essa é sim a conclusão a se aguardar, porém The Martian Child, para além de muitos similares do gênero, consegue percorrer esse caminho erguido por clichês com uma elegância impar.

Muito do êxito do filme, vale antecipar, é mérito do ótimo ator-mirim Bobby Coleman, que confere a seu personagem – um garoto de nove anos que acredita ter vindo de Marte para uma missão na terra – um carisma essencial para sensibilizar o público, ao tempo que faz de Dennis uma criança extremamente triste. Algumas situações do roteiro, como o fato dele passar boa parte do tempo dentro de uma caixa no orfanato, poderiam dar ao personagem traços cômicos que diminuiriam sua força. Mas Coleman acerta em cheio ao investir na melancolia, deixando claro que, por traz de seu monumental esforço para fazer aquela história absurda soar verossímil, existe uma carga de sofrimento igualmente substancial. Assim, o garoto rouba boa parte das cenas, deixando Cusack um tanto opaco. Talvez por que o interprete de Gordon, por sua vez, economiza nas tintas para salvar seu personagem da total caricatura. Vivendo um escritor de histórias fantásticas (muitas delas envolvendo marciano e outros serem extraterrenos) que tenta se recuperar da morte da esposa, Kusack está sempre contido.

Rico, boa praça e emocionalmente em frangalhos, David Gordon não mede esforços para conquistar o garoto, deixando em segundo plano um contrato milionário para escrever mais um exemplar de sua série de Best Sellers. Alguém duvida que o encontro entre os dois vai render um melodrama capaz de deixar a editora de Gorden com lagrima nos olhos? Ela e grande parte do público, que a essa altura já se deixou emocionar pela história.

The Martian Child definitivamente não vai mudar a história do cinema, mas entre o mar de bobagens que estão em cartaz na Cidade, pode ser um bom programa para quem não espera de um filme mais que diversão.

Ensinando a Viver (Martian Child, 2008, EUA, dir.Menno Meyjes)

Sessões no Cine Iguatemi, hoje (05), às 21h, e amanhã (06), às 09h30